Por que Marina e Christovam não conseguiram implementar suas ideias?

A combinação de “boas idéias” e o “poder fazer” soa perfeita, certo? Errado! Duas personalidades brasileiras, reconhecidamente positivas em suas propostas, estiveram à frente das cadeiras de sua área, mas não conseguirar sozinhos mover outros setores do Governo.

O que faltou? Sair foi a melhor solução? O espaco está aberto para discussão, mas o que vale mesmo são as ideias. Vamos a elas. Dê sua opinião! Eles têm realmente caminhos interessantes.

Educação, por Christovam Buarque, no site Fala, Brasil

1. Concentrar o trabalho do MEC na educação de base – pré-escola, fundamental e médio – transferindo o ensino superior para o Ministério da Ciência e Tecnologia; e criar uma Agência Federal de Proteção da Criança, comprometendo a União com a educação básica desde a primeira infância.

2. Garantir vaga na escola mais próxima de casa para cada criança no dia em que completar quatro anos; e determinar a obrigatoriedade do ensino médio, ampliado para quatro anos e garantida formação profissional.

3. Definir três pisos nacionais para a educação: um piso de salários, vinculado à formação e dedicação do professor, com a aprovação de um plano de cargos e salários dos professores, inclusive municipais e estaduais; um padrão mínimo de equipamentos e instalações, com um “habite-se federal” para autorizar o funcionamento das escolas; um conteúdo mínimo de aprendizado de cada criança, em cada disciplina, em cada série.

4. Aprovar uma lei de diretrizes educacionais, nos moldes da LDO, com metas a serem cumpridas em cada cidade e estado, tais como universalização do ensino até o final do ensino médio, implantação do horário integral em todas as escolas, erradicação do analfabetismo.

5. Aprovar uma lei de responsabilidade educacional, nos moldes da LRF, para punir o dirigente executivo que descumpra as metas estabelecidas com a inelegibilidade futura.

6. Retomar a Secretaria para a Erradicação do Analfabetismo do MEC e seus programas, definindo a meta de quatro anos para erradicar o analfabetismo de adultos.

7. Reformar o Bolsa Família, devolvendo-lhe o conceito de bolsa-escola, com vinculação educacional e administrativa ao MEC.

8. Refundar o sistema de ensino superior, ciência e tecnologia, definindo metas de curto e médio prazo, combinando a criação de conhecimento com as necessidades do país.

9. Criar, sob a liderança do presidente, um ambiente que desperte a prioridade à educação, como fez JK para a industrialização.

10. Assegurar recursos para complementar os investimentos municipais e estaduais para salário e formação de professores, reforma e equipamento de escolas, reservando de início R$ 7 bi adicionais por ano, até chegar a R$ 20 bi, em quatro ou cinco anos. Essa percentagem pequena do Orçamento traria imediata redução de gastos, com a redução da repetência e a elevação da produtividade econômica e o conseqüente aumento da arrecadação.

Sustentabilidade, Marina em entrevista à Veja

Sua saída abalou o PT. Além da possibilidade de disputar o Planalto, o que mais a moveu?
O PT teve uma visão progressista nos seus primeiros anos de vida, mas não fez a transição para os temas do século XXI. Isso me incomodava. O desafio dos nossos dias é dar resposta às crises ambiental e econômica, integrando duas questões fundamentais: estimular a criação de empregos e fomentar o desenvolvimento sem destruir o planeta. O crescimento econômico não pode acarretar mais efeitos negativos que positivos. Infelizmente, o PT não percebe isso. Cansei de tentar convencer o partido de que a questão do desenvolvimento sustentável é estratégica – como a sociedade, aliás, já sabe. Hoje, as pessoas podem eleger muito mais do que o presidente, o senador e o deputado. Elas podem optar por comprar madeira certificada ou carne e cereais produzidos em áreas que respeitam as reservas legais. A sociedade passou a fazer escolhas no seu dia a dia também baseada em valores éticos.

Se a senhora for eleita presidente, proibirá o cultivo de transgênicos?
Eis outra falácia: dizer que sou contra os transgênicos. Nunca fui. Sou a favor, isso sim, de um regime de coexistência, em que seria possível ter transgênicos e não transgênicos. Mas agora esse debate está prejudicado, porque a legislação aprovada é tão permissiva que não será mais possível o modelo de coexistência. Já há uma contaminação irreversível das lavouras de milho, algodão e soja.

Um de seus maiores embates com a ministra Dilma foi causado pelas pressões da Casa Civil para licenciar as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira. A senhora é contra a construção de usinas?
No Brasil, quando a gente levanta algum “porém”, já dizem que somos contra. Nunca me opus a nenhuma hidrelétrica. O que aconteceu naquele caso foi que eu disse que, antes de construir uma usina enorme no meio do rio, era preciso resolver o problema do mercúrio, de sedimentos, dos bagres, das populações locais e da malária. E eu tinha razão. Como as pessoas traduziram a minha posição? Dizendo que eu era contra hidrelétricas. Isso é falso.

O que a senhora mudaria no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)?
Eu não teria essa visão de só acelerar o crescimento. Buscaria o desenvolvimento com sustentabilidade, para que isso pudesse ser traduzido em qualidade de vida para as pessoas. Obviamente, é necessário que o país tenha infraestrutura adequada. Mas é preciso evitar os riscos e problemas que os empreendimentos podem trazer, sobretudo na questão ambiental.

Na economia, faria mudanças?
Não vou me colocar no lugar dos economistas. Prefiro ficar no lugar de política. Em linhas gerais, acho que o estado não deve se colocar como uma força que suplanta a capacidade criativa do mercado. Nem o estado deve ser onipresente, nem o mercado deve ser deificado. Também gosto da ideia do Banco Central com autonomia, como está, mas acho que estão certos os que defendem juros mais baixos.

[O Boa Política discute ideias. Os nomes quando aparecerem serão sempre em consequência desse posicionamento.]

Comente!

Não existem artigos relacionados.