É hora de vencer nosso glorioso Complexo de Vira-latas

Nelson Rodrigues em sua época desnudou o Brasil e em um de seus momentos mais corajosos em sua obsessão de encarar o espelho de frente bem descreve nosso Complexo de Vira-latas.

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Nos unimos nas derrotas, nos fracassos, na infelicidade. Derrotistas natos, invejamos o sucesso. Tentamos desmontar nossos heróis. O emprego novo do vizinho sempre foi mortal. Carro novo, então, é recebido com maus agrouros.

No entanto, o momento do Brasil está tratando essa nossa mania com descaso. É um rolo compressor de realidade sufocando o tempo da inveja. O país está acelerado. Não dá mais tempo de olhar pro lado pra saber do vizinho. As mão estão obrando. E rápido.

Oxalá em breve o carro novo do vizinho seja motivo de orgulho e de estímulo. Seja prova de que o nosso está próximo. Sem querer aqui defender ou exaltar Eike Batista, ou sequer avaliar sua história, métodos, interesses, mas o fato concreto é que Eike se transformou em uma enorme vitrine do nosso Complexo de Vira-Latas. Muitos dos que o atacam hoje, o fazem apenas pela irritação que seu sucesso atrai.

O texto de Ozires Silva na Revista Época (para assinantes) sobre Eike na lista dos 100 brasileiros mais influentes, trata disso. Inspira de fato o debate.

Eike Batista

O empresário mineiro, em oitavo lugar na lista dos mais ricos do mundo, tem sido criticado por seu sucesso e sua riqueza

Andre Arruda

Em 1994, fui surpreendido com minha eleição como membro da Real Academia Sueca de Engenharia. Durante o formal jantar de posse, em Estocolmo, com a presença do rei Carl XVI Gustaf, debatia com colegas suecos à mesa o motivo pelo qual o Brasil ainda não tinha nenhum cidadão contemplado com o Prêmio Nobel, certamente o mais conhecido e consagrado reconhecimento mundial. Países como Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela, para mencionar apenas a América do Sul, tiveram cidadãos agraciados. Vencendo o constrangimento, um dos colegas suecos comentou: “Vocês, brasileiros, são destruidores de heróis”. E acrescentou que brasileiros indicados devem ter sido retirados das listas de candidatos, muito possivelmente, por cartas e manifestações, duras e ácidas, produzidas por outros brasileiros. Ao contrário dos Estados Unidos, onde, disse ele, há um aplauso generalizado aos candidatos ao Nobel. Fiquei surpreso, mas concordo que, no Brasil, as pessoas usualmente se sentem constrangidas quanto a produzir elogios, mas são extremamente desenvoltas quanto a fazer críticas. E com isso chego a Eike Batista, um empresário brasileiro realmente de sucesso, empreendedor, hábil para encontrar oportunidades e delas tirar resultados. Tenho visto que, em vez de receber aplausos por sua capacidade de empreender, inovar e produzir riquezas, tem sofrido duros e diretos ataques por seu maior defeito, na visão dos críticos: ter enriquecido! Pode ser que muitos leitores não concordem comigo, mas peço que pensem. Elogios fazem muito bem e sempre têm efeito positivo. Não creio que haja nada de errado em reconhecer o sucesso. Sinceramente, acredito que é melhor cultivar e comemorar vitórias do que amargar fracassos.

Por Ozires Silva
Reitor da Unimonte, de Santos; foi ministro da Infraestrutura e presidiu empresas como Embraer, Varig e Petrobras

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