O PSDB não era, o PT não é – e agora?

Editorial da Folha de São Paulo, de 7 de março, nos trouxe uma questão que dá medo de encarar. Os dois partidos que têm ditado o rumo do Brasil (o PMDB é o maior, mas prefere que os outros dois se degladiem e lhe garantam o poder dos bastidores), nos últimos 16 anos, se enterraram em denúncias sórdidas e quase sempre verdadeiras. A esperança que levou Lula ao poder se esvai a cada dia quando o assunto é ética. Nenhum dos dois têm sequer coragem de encarar os fatos. Quando seus pares ou aliados, em geral do DEM e do PMDB, se vêem enlameados, os engravatados logo aparacem e falam sem dizer nada. No fundo, estão acuados, com o rabo entre as pernas mais uma vez. A lista de culpados é extensa demais.

Como a Folha fecha seu conteúdo para assinantes, tomamos a liberdade de reproduzir o texto, partindo da premissa de que a opinião de um veículo de mídia é pública. O texto fala sobre o PT, mas se fosse sobre DEM, PSDB, PMDB etc etc etc. não faria a menor diferença.

Vítima farsesca

Com tese de que a “mídia” o persegue, PT mantém figurino autoritário e se faz de injustiçado para encobrir falência moral

O TRUQUE é velho, e sua repetição só indica o hábito petista de afetar ares de pureza em meio ao pragmatismo mais inescrupuloso. Em documento oficial, a Executiva Nacional do PT reeditou, quinta-feira, a tese de que há uma “guerra de extermínio” contra o partido. Posteriormente, amenizou os termos. A promover tal “guerra” estariam “amplos setores do empresariado, particularmente a mídia”.

Mídia, no jargão corrente, significa todo jornal ou empresa de comunicação que não defenda figuras notórias do partido.

Como, por exemplo, o ex-ministro José Dirceu, beneficiário de uma contribuição de R$ 620 mil pela assessoria prestada a um grupo com interesse na reativação da Telebrás. Ou como os mensaleiros denunciados por quem era então aliado do governo, o deputado Roberto Jefferson; ou ainda os “aloprados” -termo que o presidente Lula foi o primeiro, aliás, a empregar- da campanha eleitoral de 2006. Como, também, aquele assessor de um deputado petista, que foi preso ao tentar embarcar num avião com cerca de U$ 100 mil dólares na cueca.

Aliás, se noticiar esse sistema de transportar dinheiro sonante fosse sinal de “guerra de extermínio”, seria agora o DEM, e não o PT, a principal vítima de uma suposta conspiração.

Mas nem mesmo os sequazes do governador Arruda arriscaram-se a ir tão longe no cinismo. É que a capacidade petista para a mentira tem origens diferentes, e mais antigas, do que a simples charamela lacrimosa dos espertalhões de voo curto.

Pois o PT, no clássico figurino stalinista, sempre pode dar uma interpretação “de classe” às críticas que venha a merecer. Como o partido se julga o representante místico dos “trabalhadores”, o financiamento escuso que receba de empreiteiras, as alterações legais casuísticas que promova em favor de uma empresa de telecomunicação, não representarão escândalo jamais.

Ao contrário: aliar-se financeiramente a “setores do empresariado” que vivem à sombra das benesses do governo, e aliar-se politicamente à escória do Legislativo brasileiro, torna-se um sinal de esperteza política na linha dos fins justificam os meios.

Autoabsolvido pelo venerável espírito hegeliano-marxista da História, o petismo pode fazer tudo o que condenava em seus adversários, e apresentar-se ainda assim como detentor das virtudes mais cristalinas.
Quem apontar a farsa será tachado de inimigo dos trabalhadores -e, na tese de uma imaginária “guerra de extermínio”, o PT mostra apenas a sua própria tentação totalitária.

Nessa lógica, que não admite críticas, faz-se de perseguido aquele que se apronta para perseguir; faz-se de vítima quem pretende ser algoz; faz-se de democrata o censor, de honesto o corrupto, de inocente o bandido. O PT perdeu a moral que tantas vezes ostentava quando na oposição. Perdeu a moral, mas não perde o autoritarismo, a mendacidade e a arrogância.

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