A cidade do Rio de Janeiro criou um centro de operações de emergência super moderno para tentar antecipar fenômenos naturais e evitar tragédias como as ocorridas na região serrana do estado do Rio de Janeiro, no começo do mês. O projeto é uma parceria com a multinacional americana IBM.
É investimento em tecnologia que pode salvar vidas. Mas isso não deve desonerar a cidade de retirar as pessoas de áreas de risco e executar uma política pública de ocupação que proteja as pessoas, os interesses econômicos, sem perder de vista a necessidade de proteção de matas, rios, mananciais etc. Abaixo matéria do IDG apresenta a proposta. E na seqüência, a Revista Época (para assinantes) entrevista Guruduth Banavar, conhecido como Guru, vice-presidente global de tecnologia da IBM, líder da parceria com a prefeitura carioca e responsável pela implementação do projeto.
Rio inaugura em 31/12 centro de operações para situações de emergência
Por Redação do IDG Now!
Centro reunirá informações para que prefeitura possa responder a incidentes e terá até um sistema de previsão do tempo, desenvolvido pela IBM.
Começa a operar na sexta-feira (31/12) o Centro de Operações Rio, uma central de gerenciamento de informações públicas que vai integrar dados de vários sistemas urbanos, com a intenção de melhorar a resposta da prefeitura em situações de emergência, como inundações e deslizamentos.
Localizado na Cidade Nova, a 200 metros da prefeitura, o centro de operações também poderá atender a outros eventos que exijam a mobilização dos recursos da cidade, como a festa do Réveillon, a saída de torcidas do Estádio do Maracanã ou um simples acidente de tráfego. As Olimpíadas de 2016 e a Copa do Mundo de 2014 também foram citadas – a inauguração, na sexta-feira, terá a presença do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge.
Apresentado na segunda-feira (27/12) pelo prefeito Eduardo Paes, o centro tem como destaque um telão de 80 metros quadrados e foi criado em parceria com diversas empresas, como IBM, Cisco, Cyrela, Facilities, Malwee, Oi e Samsung. Coube à IBM também o desenvolvimento de um sistema de modelagem e previsão meteorológica.
Os valores investidos não foram revelados. Segundo a IBM, trata-se de um plano de "vários milhões de dólares".
Cidades inteligentes
Para a IBM, a iniciativa se encaixa em seu programa global de cidades inteligentes (Smarter Cities). Projetos semelhantes já tem sido implantados em cidades como Nova York (EUA) e Gauteng (África do Sul), afirma a empresa.
"Estamos criando uma plataforma de fundação de TI que em breve será capaz de coletar dados sobre todos os incidentes e eventos que acontecem na cidade", disse o diretor de Smarter Cities da IBM Brasil, Pedro Almeida.
A IBM colabora com sua unidade de pesquisas, que vai desenvolver um sistema de modelagem hídrica e de previsão do tempo de alta resolução para a cidade (Previsão de Meteorologia de Alta Resolução, ou PMAR). Com ele, o Rio poderá prever chuvas fortes com antecedência de 48 horas.
O projeto é o maior conduzido pelo braço brasileiro do IBM Research Lab, um dos nove laboratórios de pesquisa da empresa em todo o mundo. A criação do laboratório foi anunciada em junho de 2010.
Em novembro de 2011, o Rio também será sede do quarto fórum regional Smarter Cities, promovido pela IBM. O evento terá a participação do CEO da empresa, Samuel Palmisano, e do prefeito do Rio, Eduardo Paes.
Guruduth Banavar: "O Rio será um modelo para o mundo"
O indiano responsável pelo centro tecnológico que a IBM está montando para a prefeitura carioca afirma que a cidade dará um show de gestão de crises
RUTH DE AQUINO
INOVAÇÃO
O indiano Guruduth Banavar (à esq.), da IBM, e o novo Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro (à dir.)
”O Rio se tornará em breve um modelo de gestão de crises para todo o mundo.” A afirmação é do indiano Guruduth Banavar, de 44 anos, mais conhecido como Guru, o vice-presidente global de tecnologia da IBM que ajudou a prefeitura do Rio de Janeiro a montar um moderníssimo centro de controle de operações, construído em apenas quatro meses. O Rio importou dos Estados Unidos um radar meteorológico único no Brasil, mapeou suas áreas de risco, em estudo também inédito, e criou um sistema de sirenes que deslocará para abrigos famílias ameaçadas por calamidades climáticas.
ÉPOCA – O Centro de Operações da cidade do Rio é o mais avançado do mundo?
Guru – Em vários aspectos, sim. O de Nova York ainda é o principal em controle da segurança da cidade. O de Cingapura é top em transporte. O do Rio é o mais moderno por integrar três pilares: equipamento, integração e inteligência.
ÉPOCA – Como ele funciona?
Guru – Há um telão de 80 metros quadrados com monitores que exibem tudo o que acontece na cidade 24 horas por dia, sete dias da semana. Há tecnologia de ponta para gerenciar essa informação. São mais de 300.000 metros de fibras ópticas e cerca de 200 câmeras. A sala de controle reúne 70 controladores. Há uma sala de crise e 40 salas de teleconferência. Dezenas de órgãos municipais atuam juntos, centenas de profissionais multidisciplinares se sentam lado a lado. Conseguir isso é raro, e olha que trabalhamos com cerca de 100 cidades.
ÉPOCA – Como a IBM contribuiu?
Guru – Nosso objetivo é usar a tecnologia para tornar as metrópoles mais humanas, mais habitáveis. Identificamos logo áreas prioritárias. O prefeito selecionou transporte, turismo, saúde, segurança como setores que exigiam ações mais urgentes. Mas as chuvas já eram sua principal preocupação, porque em abril do ano passado a cidade tinha sofrido muito com deslizamentos. Em maio, ele me encarregou de criar em primeiro lugar um sistema que permitisse salvar vidas em caso de chuvas e enchentes. Sugeri que ele nomeasse um executivo de operações para centralizar o controle. E foi o que ele fez. Levei ao Rio especialistas em crises, como um assessor do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani. Ajudamos a prefeitura a atrair interesse de outras empresas, como Samsung e Cisco, que doaram equipamentos.
ÉPOCA – Qual é a maior novidade?
Guru – Uma delas se chama Previsão de Meteorologia de Alta Resolução, modelo matemático criado pela IBM especialmente para o Rio. Pode prever chuvas fortes com até 48 horas de antecedência. O sistema envolve a reunião de dados da bacia hidrográfica, o levantamento topográfico, o histórico de chuvas do município, assim como informações de satélites e radares. Vai entrar em operação ainda no primeiro semestre de 2011. Contamos com a ajuda da Geo-Rio, que elaborou, com levantamento a laser e câmeras acopladas a helicópteros, um mapa da cidade levando em conta declividade, uso do solo, condições geológicas. Está prevista a instalação de 60 sirenes para alerta e alarme, o que abrangerá 80% dos moradores em áreas de alto risco.
ÉPOCA – Qual é o próximo desafio?
Guru – No transporte, podemos tornar mais precisas as análises para prevenir engarrafamentos. Mas o maior desafio é aprender a usar tudo o que está à disposição. Precisamos treinar os profissionais que ali estão, para que seja feito o cruzamento de dados e sejam tomadas as decisões necessárias em situações de emergência e nos grandes eventos. É uma mudança cultural. Gente que trabalhava isoladamente e não repassava informações importantes agora percebe que não basta dispor de softwares e monitores. É preciso sair de uma postura passiva e agir em equipe. Estamos no Rio porque a cidade vai sediar as Olimpíadas e porque encontramos na prefeitura uma visão de futuro compatível com a nossa. Escolhemos o Rio para sediar em novembro deste ano o congresso internacional de inovação da IBM, para poder mostrar a outros países o caminho da gestão que põe o mundo digital a serviço do cotidiano nas grandes metrópoles.
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